
Preservar as margens dos rios e as zonas ripárias é fundamental para assegurar diversos aspectos ligados à saúde dos rios.
Esta é a principal conclusão de um estudo internacional recentemente publicado na revista Water Research.
Proteger, plantar e restaurar a vegetação ripária nativa, bem como reabilitar os habitats ribeirinhos, permite o fornecimento de abrigo e alimento aos organismos aquáticos e previne o aumento da temperatura da água, na luta contra o aquecimento global.
As zonas ripícolas podem ainda prevenir danos causados nos rios, provenientes das actividades humanas que ocorrem ao nível da bacia hidrográfica, como é o caso da agricultura. No entanto, isto nem sempre acontece…
Os rios fornecem um conjunto de bens e serviços fundamentais para o Homem, como a água potável e o alimento, as zonas de lazer e recreio. No entanto, são cada vez mais ameaçados pela poluição, pelas alterações físicas e morfológicas e pela exploração excessiva dos vários recursos.
Embora diversos esforços internacionais, como a Diretiva-Quadro da Água da UE, tenham como objectivo avaliar e restaurar a saúde dos rios, para protecção da biodiversidade e das pessoas, a verdade é que nem sempre são eficazes na reversão dos danos. Uma necessidade fundamental tem sido perceber as causas e encontrar as soluções que melhor se adeqúem a diferentes circunstâncias.
Uma equipa internacional, incluindo duas investigadoras do CEF, Maria Teresa Ferreira e Maria do Rosário Fernandes, abordou esta questão no âmbito do projecto MARS da EU, revendo a literatura científica disponível e relacionando os tipos de vegetação e as medidas de acção com o sucesso do restauro. No estudo, foi ainda avaliada, em que medida a gestão ripária permite efectivamente reduzir os impactos provenientes do aumento dos nutrientes, dos sedimentos e da temperatura da água, e se a qualidade biológica pode ser, verdadeiramente, melhorada.
O estudo concluiu que, enquanto o restabelecimento da vegetação ripária têm efeitos limitados na retenção de nutrientes, de sedimentos e na melhoria da qualidade biológica, a vegetação ripária lenhosa permite de forma inequívoca, melhorar a qualidade física dos habitats fluviais, aumentar o fornecimento de alimento aos organismos aquáticos e diminuir a temperatura da água. Os efeitos positivos do restauro ripário mais significativos foram encontrados nos troços de cabeceira-média, uma vez que representam a zona do rio onde proporcionalmente há mais área afectada pela zona ripária.
O coordenador do estudo, Dr Christian Feld afirmou: “As actividades de gestão e ocupação do solo, tal como a agricultura e a floresta, são fundamentais para o Mundo, mas podem causar danos nos rios nas zonas a jusante. É portanto necessário reduzir os efeitos indesejáveis e gerir as zonas ripárias usando uma abordagem custo-benefício e de âmbito local. Foram encontradas evidências de que o restauro ripário pode ser efectivo na resolução de alguns problemas, mas não de todos. Problemas de macro escala, como é o caso da poluição difusa e do aumento dos sedimentos finos necessitam de soluções também de macro-escala, aplicadas através da melhoria da gestão ao nível da bacia hidrográfica.
O Professor Steve Ormerod, co-autor do estudo acrescentou: “Toda esta questão necessita de uma abordagem holística, de gestão de ecossistema. As águas doces são recursos humanos cruciais que requerem cuidados, manutenção e por vezes tratamentos dispendiosos antes de poderem ser fornecidos às pessoas. Os ecossistemas de águas interiores têm perdido diversidade biológica a uma taxa alarmante uma vez que, no geral, não se encontram devidamente protegidos. Precisamos intensificar os esforços para equilibrar o uso produtivo da terra e os custos causados a jusante, e o nosso trabalho mostra que para tal, é necessário combinar a gestão ripária à escala local com a gestão territorial à escala da bacia hidrográfica.
Link para o artigo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0043135418302987