O Projecto ENERWOOD

ENERWOOD - POTENCIAL DE ESPÉCIES LENHOSAS AUTÓCTONES PARA A PRODUÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DA BIOMASSA

Uma das fontes renováveis de energia mais importante para a Europa é a biomassa vegetal, quer em termos reais de produção de energia, quer em termos técnicos e de viabilidade económica. Contudo, permanece em larga medida por avaliar a eficiência da biomassa enquanto conversor de energia solar. O presente projecto pretende responder a esta questão através da instalação de campos experimentais nas regiões de Lisboa e de Viseu, cultivando cinco espécies de interesse energético real ou potencial, duas das quais introduzidas e constituindo referências com interesse energético reconhecido e três como espécies autóctones a testar: eucalipto, miscantos, salgueiro, choupo e piorno-amarelo. Para tal é necessário avaliar as necessidades energéticas da preparação do solo, fertilização, irrigação, colheita, secagem, destroçamento e adensamento da biomassa para atingir um produto final acabado sob a forma de peletes. O seu potencial energético é então avaliado, comparando a energia resultante da sua conversão com a energia utilizada em todo o processo atrás descrito, incluindo a energia solar captada pelas espécies durante o seu crescimento.

O trabalho de campo está a ser realizado em duas regiões distintas, distantes cerca de 300 km, uma na Tapada da Ajuda, campus do Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, e outra nos campos da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viseu. Com esta abordagem pretende-se avaliar a influência dos diferentes parâmetros climáticos sobre o desempenho das espécies em estudo. Uma vez colhida, a biomassa é seca em estufa solar instalada na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Viseu, monitorizando também aí a energia solar recebida. Em seguida, os lotes de biomassa são destroçados para permitir o seu adensamento. São então produzidos lotes de peletes com base em diferentes espécies e misturas de espécies e determina-se a composição imediata e elementar, bem como o respectivo poder calorífico. O objectivo final consiste em fazer uma determinação do desempenho energético global do processo.

De um modo mais geral, este projecto tenta avaliar a viabilidade da biomassa como alternativa, ainda que limitada, aos novos desafios que começaram a ser impostos à sociedade em termos de novas formas de obtenção de energia, dum modo que seja atraente para o utilizador final. Embora as espécies vegetais sejam muito limitadas enquanto colectores de energia solar têm, no entanto, qualidades indiscutíveis, como sejam a abundância e a disponibilidade para serem aplicadas em utilizações energéticas de fraca intensidade, como é o caso do aquecimento de sistemas domésticos e de comunidades de média dimensão. Esta abordagem não só é aceitável em termos ambientais, como será fundamental para as regiões interiores do país que necessitam da criação de novos focos de desenvolvimento e da revitalização de algumas actividades económicas tradicionais.

O plano de trabalho da investigação encontra-se a ser implementado em três etapas sucessivas:

1) Avaliação do potencial das espécies mencionadas, bem como da sua adaptação aos Verões secos característicos do nosso clima. O objetivo é comparar espécies autóctones de salgueiro (Salix atrocinerea), choupo (Populus alba) e de uma leguminosa arbustiva (Retama sphaerocarpa), com uma espécie de crescimento rápido, o eucalipto (Eucalyptus globulus) e com um exemplo clássico de cultura energética introduzida, o miscantos (Miscanthus giganteus). Esta comparação inclui: (i) a definição de métodos optimizados de produção vegetal em viveiro, (ii) a determinação do potencial de produção de biomassa em regadio e em sequeiro, (iii) a realização do balanço energético da produção vegetal, incluindo os consumos de energia em viveiro, (iv) o estabelecimento de itinerários técnicos com princípios da produção biológica, (v) e a comparação entre o regadio e o sequeiro para estimar o efeito da seca estival na produção de biomassa.

2) Ensaios das peletes produzidas através de diferentes misturas das espécies cultivadas, de forma a avaliar a sua qualidade e aferir a quantidade de energia envolvida na sua obtenção. As limitações técnicas e económicas dessa densificação serão avaliadas através da quantificação das necessidades energéticas da secagem, destroçamento e trituração previamente realizadas. O balanço global da energia consumido no processo que vai do propágulo ao pelete, será comparado com o poder calorífico do produto final.

3) Avaliação da combustão das peletes, testando o seu comportamento num queimador em leito fluidizado à escala laboratorial. Pretende-se obter dados sobre aspectos difusivos e cinéticos durante a combustão de pequenas cargas, numa gama de temperaturas de 650 a 850º C, de modo a obter dados fiáveis. Misturas de ar e ar/azoto serão usadas como gás de fluidização. A taxa de reacção dos peletes será determinada para que a conversão de energia deste combustível possa ser comparada com as peletes comerciais.